28 de dezembro de 2017

Opinião – “O Boneco de Neve” de Tomas Alfredson

Sinopse

O detetive alcoólico Harry Hole encabeça uma unidade de elite que está a investigar o caso de uma mulher que desapareceu num subúrbio de Oslo quando a neve começou a cair. Não demora muito até reparar no paralelo entre esse caso e o de um assassino em série chamado “Boneco de Neve”, com que lidou anos antes.
Realizado pelo sueco Tomas Alfredson trata-se da adaptação de mais um romance policial homónimo do norueguês Jo Nesbo publicado em 2007 e corresponde ao sétimo caso da saga do detetive Harry Hole, interpretado por Michael Fassbender. Fazem também parte do elenco: Rebecca Ferguson, Charlotte Gainsbourg, Val Kilmer e J.K.Simmons.

Opinião por Artur Neves

Mais uma vez uma adaptação ao cinema de uma obra nórdica de qualidade corre mal. Estou a lembrar-me dos filmes; “Deixa-me Entrar” em 2010 e “Os Homens que não gostam das Mulheres” em 2011, primeiro volume da saga Millenium de Stieg Larsson. Em ambos os casos houve uma primeira versão realizada por realizadores nórdicos. No presente filme a realização de Hollywood é a sua primeira adaptação cinematográfica por um realizador nórdico que não consegue pegar neste intrigante enredo e apresentá-lo de forma fluida e coerente, tendo ficado alguns furos abaixo das expectativas iniciais que esta história poderia transmitir.
O principal problema resulta da forma confusa como a intriga é transmitida ao espectador resultando numa história sem alma, embora contenha cenas fortes e dramáticas, mas que são “plantadas” sem o devido enquadramento que lhes confira espessura, drama e aquela trama policial impregnada de mistério, suspeita e pistas falsas que prendem o espectador à história e às emoções dos personagens.
Logo no início surpreendemo-nos ao constatar que o bêbado sem casa que nos apresentam caído na rua (caído do céu) é afinal o polícia de elite que vai acompanhar e desvendar todo o mistério do crime. A relação com a mulher de quem está divorciado e com o seu filho adolescente também só começa a fazer sentido lá muito para a frente. Os outros personagens são introduzidos sem se saber exatamente a sua relação entre si. A relação com a sua colega de investigação é-nos mostrada como ambígua e banal, quando no final toma um lugar e assume atitudes perfeitamente surpreendentes cuja justificação encontramos somente no fim da história.
O ambiente onde a história se passa, repleto de neve e de brancura fatal é do melhor que o filme tem decorrente do trabalho de fotografia, que por si só descreve alguma das justificações da opressão silenciosa que transparece em toda a história e que o realizador, o argumentista, ou ambos, não tiveram arte nem engenho para articular os elementos figurativos a comunicar em cada momento, tornando o filme quase incompreensível em situações fulcrais para o desenvolvimento da ação, incompleto e provocando a alienação do espectador, por se sentir incomodado com a sua própria incompreensão.
Ainda assim trata-se de um thriller que na versão de romance deve ser muito interessante, pois a história é forte, os elementos estão lá todos, e no final até se compreende toda a intriga, lamenta-se é que seja só no final. A imagem é muito boa e toda aquela frieza gélida do rigoroso inverno nórdico acentua o espírito sombrio do filme e se conseguirmos aguentar todas as perguntas que nos veem á mente até final podemos não dar o nosso tempo por completamente perdido.

Classificação: 5 numa escala de 10

Sem comentários: