21 de junho de 2017

Opinião – “Assassino Contratado” de Jonathan Mostow


Sinopse

Quando decide que os seus valores são mais importantes que o contrato, Jules (Sam Worthington), um assassino profissional, vai contra as ordens dos seus chefes e acaba a proteger lealmente Ella (Odeya Rush), a jovem que tinha sido contratado para matar. Assinalados para morrer, Jules e Ella formam uma aliança insegura. À medida que na sua fuga Jules arrasta consigo o peso dos seus pecados e Ella é forçada a crescer numa situação impossível, o par é impiedosamente perseguido através da Europa. A sua única hipótese de sobrevivência é expor as pessoas responsáveis pelo brutal homicídio da família de Ella e levá-los à justiça. No entanto, com o custo de cada morte a pesar sobre os seus ombros, mesmo que sobrevivam, é possível que as suas almas não saiam ilesas deste confronto terrível.

Opinião por Artur Neves

Esta história pouco provável conta a odisseia de um assassino a soldo, viciado, doente, frio nas suas opções, que através de um ato de contrição por razões que o filme não revela expressamente, é assaltado por sentimentos de remorso e de redenção assumindo-se como defensor da vítima que teria sido contratado para matar.
Jonathan Mostow, realizador americano que soma trabalhos de sucesso, tais como; “Submarino U-571” (2000) e “Exterminador Implacável 3” (2003) entre outros títulos também notáveis, desenvolve este thriller de espionagem e ação por várias capitais europeias, onde o assassino e a sua presa, agora protegida, fogem ao assalto de outros assassinos contratados para cumprirem o contrato que ele, por cansaço, falta de objetivos, e desejo de redenção se recusou a cumprir.
Nessa fuga imparável vão-se revelando ligações imprevistas entre a alta finança, a política e a polícia e os anteriores amigos do assassino, sempre debaixo de uma tensão, que o filme consegue transmitir desde que o argumento revela ao que vem. Entre o assassino e a sua protegida, desenvolve-se um clima de suspeição, óbvio naquele contexto, sempre contrariado pelas atitudes deste, que com risco da própria vida salva Ella (Odeya Rush) através de perseguições a pé, de carro, de comboio, mantendo sempre o espetador interessado com o futuro daquela relação fundada no medo e na suspeição mas que continuamente vai adquirindo outros contornos acentuados pela expressão de Ella, que apesar de estreante nestas andanças, desempenha um papel escorreito, e exibe uma sensualidade contida e recatada à medida que a relação entre os dois se torna indissociável pela entre ajuda mútua nas vicissitudes daquela fuga.
O clima psicológico entre ambos é somente abordado superficialmente e é pena, pois se fosse mais desenvolvido teríamos uma história mais robusta, considerando que o concreto risco de morte, fundamentado na insegurança das contradições em que ambos sobrevivem e na personalidade fechada, de poucas palavras, do assassino, Jules (Sam Worthington), poderia conferir a esta história outro elam para lá das fugas e ciladas que nos são apresentadas.
Todavia merece ser visto, tem interesse e recomendo.

Classificação: 6 numa escala de 10

14 de junho de 2017

Opinião – “O Muro” de Doug Liman


Sinopse

“O Muro” é um thriller psicológico que acompanha dois soldados americanos encurralados por um sniper iraquiano, com apenas um muro desmoronado a separá-los. O combate transforma-se numa guerra de vontades, inteligência e precisão letal. Realizado por Doug Liman (“Mr. & Mrs. Smith”, “Identidade Desconhecida”, “No Limite do Amanhã”). “O Muro” conta com as interpretações do vencedor de um Globo de Ouro; Aaron Taylor-Johnson (“Animais Noturnos”, “Kick-Ass”, “Selvagens”, “Godzilla”, #Vingadores: A Era de Ultron”) e a estrela da WWE, Jonh Cena (“Descarrilada”, “Pai há só Um!”).

Opinião por Artur Neves

Doug Liman afasta-se um pouco do seu registo mais frequente de filmes de ação e traz-nos uma história, vivida em clima de guerra, durante a última invasão do Iraque por tropas dos USA, mas na vertente psicológica presente em todos os conflitos e em todas as batalhas. Nem sempre é o mais forte a ganhar a guerra mas antes o mais inteligente que consegue capitalizar a força do seu adversário em benefício próprio.
É o que se passa nesta história, em que “Juba” (Laith Nakli, nunca veremos os eu rosto na tela, apenas a sua voz no rádio) o sniper Iraquiano com fama de assassino pelo sucesso obtido em combate, depois de atingir um dos soldados americanos, que confiando na sua superioridade abandona o esconderijo violando normas de segurança e se aproxima do campo de morte que deveria ter protegido, tenta estabelecer comunicação via rádio, com o outro soldado em modos amistosos como se quisesse tornar-se seu amigo improvável naquele inóspito deserto.
É aqui que reside a verdadeira história deste filme, no modo subtil como “Juba” inicia a conversação, sem pressas, em tom coloquial, primeiro fazendo-se passar pelo “salvador” que o americano pretendia contactar, depois de descoberto, como o “amigo” que poderia ter encontrado no centro comercial mais próximo, ali ao virar da esquina do deserto. O diálogo que se trava é inteligente, culto e coerente da parte de “Juba” e errático, desconexo, sem seguimento da parte do americano que não apresenta discernimento para ripostar, nem para engendrar um plano que possa equilibrar a situação crítica em que ele e o seu camarada se encontram.
A história mostra-nos também que os sofisticados meios técnicos ao dispor, de pouco servem se não os soubermos pôr a funcionar, sendo naquele ambiente inóspito que a serenidade, o sangue frio e a presença de espírito mais falta nos fazem. Características essas presentes no diálogo de “Juba”, aliado ao conhecimento profundo do inimigo, nas suas causas pífias, na sua confiança no seu poder, na sua fraqueza pessoal e nos medos que ele explora, através de um diálogo insinuante com que pretende “adormecer” a resistência do americano.
“Juba” tem os americanos à sua mercê, mas estrategicamente mantem-nos agonizantes, inseguros, temerosos, com a esperança de uma salvação que virá dos céus, porque a pátria e o seu comandante nunca os abandonará e de facto ela chega, mas o resultado prático é que é muito diferente do esperado. Este filme enquadra-se portanto no thriller psicológico em ambiente de guerra, com alta intensidade dramática, credível que merece ser visto.

Classificação: 6 numa escala de 10

10 de junho de 2017

Opinião – “Girls Night” de Lucia Aniello


Sinopse

No filme “Girls Night”, uma comédia picante, cinco melhores amigas do tempo de escola – Scarlett Johansson, Kate McKinnon, Jillian Bell, Ilana Glazer e Zoë Kravitz – reúnem-se 10 anos mais tarde para uma despedida de solteira selvagem em Miami.
A festa louca sofre uma reviravolta inesperada quando as cinco amigas matam acidentalmente um stripper. Por entre loucas tentativas de decidirem o que fazer, elas deparam-se durante a noite com inesperadas situações hilariantes que acabam por as unir mais do que nunca.

Opinião por Artur Neves

Lucia Aniello transporta-nos neste filme para a loucura da juventude americana na transição para a idade adulta, com uma história duma despedida de solteira com contornos verdadeiramente picarescos e humorísticos, através dos quais é traçada uma radiografia, algo forçada, mas também realista e genuína da sociedade atual, na qual se libertaram as amarras da contensão e do ser sem necessidade de parecer, independentemente de toda compostura a que tradicionalmente nos habituaram a aceitar como imutável e imprescindível.
Nesta área, a linguagem tem um papel fundamental, pois é através dela que todas as emoções, desejos e projetos são partilhados com as pessoas que nos rodeiam e é essa mesma linguagem que nos mostra a transformação das relações sociais de que aquelas cinco amigas estão imbuídas convidando-nos a aceitar esta “nova ordem”. Pouco “nova” porque representa afinal um regresso ás origens do nosso ser e sem realmente ser uma “ordem” porque é mais a adesão ao movimento imparável de alteração de costumes de que a civilização ocidental está animada.
Para as nossas amigas vale tudo e quanto pior, melhor, pelo que a organização do evento reveste-se de particularidades formais nos mais ínfimos pormenores, em todos os adereços escolhidos, e nos espaços e “estrelas” contratadas. Tudo conduziria a uma festa de arromba se não fosse o choque com a realidade ocorrida com a morte acidental do “contratado” que não tinha mesmo outro lugar para ter um acidente, provocado pela “gula” de uma das companheiras, senão naquela festa onde tudo foi meticulosamente previsto para ser memorável.
A partir daqui o roteiro altera-se um pouco e embora a loucura continue, ficará condimentado com laivos de responsabilidade, verdade na confrontação dos diferentes pontos de vista, medo do comprometimento, revelações surpreendentes, declarações recalcadas que vêm ao de cima, numa amálgama de amizades antigas que se confrontam num ambiente estranho. É aqui que a história tem o seu ponto alto como montra social das relações humanas e Lucia Aniello consegue mostrar-nos diversidade nos comportamentos, mantendo toda a loucura dos personagens em confronto.
Curioso é ainda, observar a diferença apresentada entre a festa de despedida de solteira das raparigas e a festa de despedida de solteiro dos rapazes… as “coisas” estão mesmo a mudar. Claro que o espírito de comédia e de crítica não se perdem em toda a história e no final tudo acabará justificadamente bem como é tradição. É um filme divertido, bem feito, com bons momentos de gargalhada e sério nos quadros de vida representados. Uma recomendação caro espetador, veja todo o genérico final, pois durante e após este, são apresentadas duas cenas de epílogo da história.

Classificação: 7 numa escala de 10

9 de junho de 2017

Opinião – “Rei Macaco” de Tian Xiao Peng


Sinopse

O Rei Macaco é baseado num dos principais personagens da mitologia chinesa, Sun Wukong, um macaco que mesmo após de ter sido coroado rei, aspirava ser igual aos deuses e tornar-se imortal. Como não lhe concederam esse desejo ele revoltou-se, e o resultado foi ser condenado pelos deuses a permanecer enterrado na Montanha dos Cinco Elementos. Ficou lá durante 500 anos até ser acidentalmente libertado por Liuer, um jovem órfão.
Liuer, fugia da sua aldeia que fora assaltada por Ogres das Montanhas em busca de crianças para oferendar ao Senhor do Mal, levava consigo uma menina pequenina que salvara das garras dos ogres. Liuer, que se tinha perdido, pede ao Rei Macaco que o ajude a encontrar o caminho para casa. O Rei Macaco, agora em liberdade, hesita se deve ou não ajudar Liuer. A persistência deste acaba por convencê-lo e acompanhados de um Porco multifacetado e cómico, partem numa aventura para vencer os Ogres e o Senhor do Mal.
Um filme que é uma aventura e a descoberta do herói que existe em cada criança.
Sun Wukong é o personagem inspirador da série japonesa Dragon Ball, sendo nome do personagem principal da série (Son Goku) que corresponde à tradução de Sun Wukong em japonês.

Opinião por Artur Neves

Esta incursão na mitologia chinesa, estranha na nossa sociedade, mas suficientemente descrita na sinopse que acompanha este filme, leva-nos ao mundo da fantasia para nos certificar que seja qual for o povo, credo ou nação, a coragem, a determinação e o coração limpo das boas ações são sempre elegíveis e impulsionadas para a glória dos seres humanos que as defendem.
Os deuses estarão sempre do lado dos bons e são estes os preferidos para sempre. Com uma imagem clara, luminosa mesmo, suportada pelos grandes meios tecnológicos de animação este filme envolve-nos no prazer de ver a evolução dos heróis e dos tiranos (sem os segundos não existiriam os primeiros) partilhando connosco as suas aventuras, os sucessos dos primeiros e o castigo dos segundos em atribulados movimentos nos espaços em que se move a ação.
Longe vai o tempo da banda desenhada, animada em 2D, com fundo parado, cor única ou até sem cor, e movimento à vez dos personagens, que nos fazia sonhar com uma boa história e a virtude dos personagens. A computorização veio conferir uma vida reforçada a este meio de comunicação para o qual tudo é possível oferecendo-nos o prazer de ver eventos e ações inimagináveis ou nem sequer provavelmente abordados pelos nossos pensamentos, portanto caro espectador este é um filme de família dedicado à fruição da magia e do puro espetáculo, para além de contar uma história que se insere na mitologia chinesa, que provavelmente não conhecia. Recomendo.

Classificação: 6 numa escala de 10

6 de junho de 2017

Opinião – “A Missão” de Walter Hill


Sinopse

Depois de acordar e descobrir que foi submetido a uma cirurgia de mudança de sexo, um assassino procura encontrar o médico responsável.

Opinião por Artur Neves

Mais uma vez em Portugal a denominação dos filmes que nos chegam de fora reportam-se a aspetos mal identificados com o contexto da história que nos é contada. No caso presente a situação é particularmente complicada considerando que na origem esta película já foi nomeada como sendo; “The Assignment” na versão Americana e “Revenge”, na Europa sendo na nossa opinião o ultimo título o que melhor lhe assenta, e o pior a denominação Portuguesa, que o remete para um desígnio que dificilmente se descortina nesta história.
Walter Hill realizador e produtor americano, tem créditos firmados no meio e experiencia reconhecida nesta área,
“atraente” em algumas cenas.
O transformismo a que “John Kitchen” é submetido é-nos contado e justificado por uma médica interpretada por Sigourney Weaver, madura, segura de si e que constitui outra boa escolha para contracenar como o nosso “herói” desenvolvendo as considerando toda a série “Alien” e outros filmes de reconhecida qualidade, do ponto de vista de bilheteira e de entretenimento para uma larga faixa de público que tem no cinema um meio de distração e de cultura, pelo que que para já pode concluir-se que estaremos bem servidos.
No caso presente, cuja sinopse resume a história de uma forma bastante redutora, a ação, desenvolve-se ao estilo de “Sin City”, com separadores em banda desenhada, (em fotogramas sem animação) apresenta uma boa fotografia onde se destaca o desempenho de Michelle Rodriguez no papel de “John Kitchen” tanto na versão masculina, como na versão feminina do personagem, constituindo uma boa escolha para ambas as situações, considerando ser uma mulher com características pouco femininas, mas que o tempo tem conseguido amenizar desde os primeiros filmes em que entrou, tornando-se até razões que a levaram a praticar a operação efetuada (demasiado bem executada para a época em que vivemos, mas estamos num filme) abordando os constrangimentos psicológicos e os motivos porque foram infligidos nesta pessoa que agora sofre a dicotomia do “ser” homem em corpo de mulher.
“John Kitchen” evidencia em todos os seus atos esse desconforto, esse trauma que lhe foi infligido aparentemente sem razão e que ele procura por todos os meios descobrir através da descida aos infernos do meio onde habita, descobrindo que foi atraiçoado por alguém em quem instintivamente confiou e se afeiçoou, sofrendo assim duplamente a sua condição e alimentando um inaudito e imparável desejo de vingança, como único sentido para a sua vida agora estéril e sem retorno nem esperança.
Esta história propiciava uma reflexão sobre a duplicidade do género humano e em parte, fugazmente, ela é abordada mas Walter Hill quer é mostrar-nos, sangue, morte, tiros, toda a ação que provoque sobressalto no espetador, como se o problema humano ali tão bem criado pertencesse ao domínio de outro filme ainda não realizado… opções, no cômputo geral todavia este é um filme aceitável.

Classificação: 5 numa escala de 10