12 de novembro de 2016

Opinião – “As Inocentes” de Anne Fontaine


Sinopse

Polónia, 1945. Mathilde, uma jovem médica da cruz vermelha, encontra-se numa missão para ajudar os sobreviventes da Segunda Guerra Mundial. Quando uma freira lhe pede ajuda, esta apercebe-se que existem várias freiras grávidas, fruto da barbaridade dos soldados soviéticos. Incapazes de conciliar a fé com a gravidez, as freiras apoiam-se em Mathilde, a sua única esperança.

Opinião por Artur Neves

Este filme conta uma história verídica ocorrida na sequência do término da Segunda Guerra Mundial, quando um dos membros da coligação vencedora, os Russos, nesse tempo os soldados da União Soviética entram na Polónia, anteriormente ocupada pelos Alemães, para a libertar e começam por violar as freiras de um convento que lhes aparece no caminho. A realizadora, Anne Fontaine, nascida em 1959 no Luxemburgo apresenta trabalhos que a qualificam como habilitada para o tema em questão, todavia já nos trouxe melhores abordagens do que a presente história, provavelmente por não ter colaborado na autoria do argumento, como noutras realizações em que destaco “Paixões Proibidas” de 2013.
Todavia a história é simples, as freiras são mulheres, foram violadas e como resultado ficaram grávidas numa condição inaceitável para a época, 1945, e para o local em que aconteceu, Polónia católica e fragilizada com a guerra. Deste caldo resulta um grupo de mulheres “embaraçadas” com a sua condição que no limiar do sofrimento psíquico e físico em que sobrevivem, solicitam a ajuda de uma médica pertencente a outra facção libertadora; os USA, que após ultrapassar as formalidades inerentes à política do pós-guerra, bem como a sua própria incompreensão para a condição de submissão aos cânones monásticos das “pré-mamãs”, as ajuda a completar a sua mais nobre função de vida; ser mulher.
É aqui que esta história atinge o seu zénite, pois a solução tradicional destas mulheres era, abortar em condições inimagináveis, parir e matar os filhos à nascença por iniciativa pessoal, ou parir e entregar o fruto do seu ventre aos cuidados da madre superiora, déspota e sifilítica, que alegando que os entregaria a uma mãe de acolhimento na vila mais próxima do convento, os abandonava na base de um cruzeiro existente na floresta, á intempérie do gelo e do frio inverno Polaco, como penitencia e desconto dos “pecados” cometidos pela mãe improvável e indesejável à congregação.
Assim observamos mais uma incongruência desta religião milenar que apelando à protecção dos fracos e pugnando pelo amor fraterno entre todos os seus membros, comete barbaridades com a que nos é mostrada nesta história, justificadas pela submissão ao dever de repulsa pela mais poderosa pulsão humana; a pulsão sexual, decorrente da qual nos multiplicamos e progredimos como espécie. A acção decorre maioritariamente dentro das portas do convento onde nos é mostrado todo o sofrimento infligido pela fé, pela obediência cega ao preceito da castidade, que mesmo quando usurpado sem o consentimento de um dos parceiros, só pode ser “lavado”, “purificado”, ou como lhe quiserem chamar, pelo sacrifício inapelável do fruto dessa relação.
Enfim, no final as coisas compõem-se e só espero que tenha sido esse o seu verdadeiro desfecho. É uma história interessante que levanta questões bem actuais que não devemos esquecer, porque, embora escondidas em conventos e outros locais, andam por aí… a ver.

Classificação: 7 numa escala de 10

Sem comentários: