20 de agosto de 2016

Opinião – Viver Depois de Ti de Thea Sharrock


Sinopse
Lou Clark, uma rapariga do interior, não tem muitas ambições na vida e trabalha como empregada de balcão num café. Após o encerramento definitivo do estabelecimento, teve de procurar um novo emprego. Sem muitas qualificações, aceita a vaga para cuidar de Will Traynor, um empresário tetraplégico que descarrega toda a sua amargura, naqueles que estiverem por perto e que está a planear dar um fim ao seu sofrimento.

O que Will não sabe é que Lou está prestes a mudar a sua vida.

Opinião por Artur Neves
Ao ler o nome deste filme sugere-nos uma história de drama, de dor pela morte de alguém. Ao ver o poster porém, essa sugestão dissipa-se considerando o sorriso rasgado dos dois presumíveis protagonistas, recortados contra um fundo neutro que não acrescenta nada à imagem. Ao procurar informação adicional constata-se que o filme adapta a obra homónima de 2012, do escritor Inglês Jojo Moyes, que também foi o autor do argumento, para a realização da primeira longa-metragem de Thea Sharrock com alguma obra em séries para televisão.
Com estes dados a opção foi assistir ao filme considerando que A priori nada indiciava o seu verdadeiro conteúdo. No geral é uma história sobre a vida de alguém que sofre um desastre que o torna tetraplégico, e a partir de certa altura, passa a ser assistido nas suas insuficiências por Lou Clark (Emilia Clarke) e é aqui que começam as incongruências. Lou Clark é pouco mais do que uma idiota, considerando o seu comportamento corrente, as suas atitudes, as suas expressões faciais com um encurvamento de sobrancelhas que lhe conferem uma expressão apalhaçada (sem ofensa para os palhaços porque actuam noutro contexto) e um sorriso inconsequente e risos frequentemente inapropriados à acção e não poucas vezes, inexplicáveis para a cena em apreço (muito riso, pouco siso). Apresenta ainda uma fixação inexplicável por chá, sem que, durante todo o filme, esse elemento tenha uma aparição relevante.
Logo no início do filme somos induzidos a perceber o acidente que motivou a paralisia de Will Traynor, (Sam Claflin) e o “amarrou” a uma cadeira de rodas da nova geração, com iPod e outras modernices tecnológicas que não compensam de forma alguma a perda total de mobilidade e de independência que justifica o seu mau humor quase constante, a sua tristeza e o seu secreto e legítimo desejo de opção por uma morte assistida que ele está a preparar com o seu advogado. Todavia o filme apresenta-nos sempre um personagem em pose de sentado ou deitado, sem nunca se vislumbrar as suas dificuldades motoras, ou simplesmente qualquer limitação impeditiva da mais elementar incapacidade fisiológica, numa história que apresenta a eutanásia como um recurso de direito implícito.
Claro que um ser humano naquela condição deve ter o direito de decidir sobre o seu destino, mas as suas razões devem ser mostradas, em vez do caminho que o filme segue, pela tentativa de recuperação da “alegria de viver” (verdade?...) através das “invenções” de uma quase atrasada mental, que após confrangedoras situações porque faz passar o seu patrão ainda fica chocada e ofendida quando se apercebe que ele continua firmemente decidido pela opção de morte assistida. A ofensa é todavia de pouca duração, pois logo a seguir dá-lhe um rebate de consciência, afivela o seu melhor sorriso, arqueia as sobrancelhas, enruga a testa, e voa para a Suíça, para os braços do seu amado, já no último estágio do seu objectivo libertário, para uma despedida romântica ao melhor nível das novelas Mexicanas.
O mau gosto porém não se fica por aqui. O epílogo desta história é vivido em Paris, numa esplanada onde ela toma conhecimento da derradeira carta de Will Traynor e do dinheiro que ele lhe deixa, que lhe motiva o mesmo sorriso que já víramos antes durante todo o filme e o impulso de compra de um perfume de marca.
Ora bolas meus senhores, este filme é uma verdadeira pessegada pela forma como é apresentada. O tema é verdadeiramente dramático e já tem sido abordado com inerente dignidade, tal como em; “Sonhos Vencidos” de Clint Eastwood, o filme brutal que é “Mar Adentro” de Alejandro Amenabar, ou mais recentemente; “Amigos Improváveis” de Eric Toledano. Esta versão deste drama é um completo desconchavo.
Classificação: 3 numa escala de 10

1 comentário:

Célia disse...

Só para alertar que Jojo Moyes é uma autora, não um autor.