25 de maio de 2016

Opinião – “Ninguém quer a Noite” de Isabel Coixet


Sinopse

Inspirado em factos reais, “Ninguém quer a Noite” é sobre Josephine Peary (1863 – 1965) uma mulher da alta sociedade que, em 1908, viaja para o Pólo Norte para encontrar o marido, o explorador Robert Peary, e partilhar o momento glorioso da sua descoberta. A sua coragem e amor levam-na a uma marcha épica através de um dos lugares mais inóspitos do mundo, onde conhece Allaka, uma inuit que vai influenciar profundamente as suas ideias rígidas sobre o mundo e a vida.

Opinião por Artur Neves
“Ninguém quer a Noite” apresenta-nos a saga de uma mulher, algo frívola e distante do mundo real, contada por ela própria sobre o seu desígnio de amor de se juntar ao seu eleito no topo do mundo, e à enorme lição de vida que recebeu na viajem que quase lhe custou a vida, onde deixou a arrogância, o seu coquetismo e despotismo feminista, próprios de uma época e de uma cultura que subjugava as mulheres, glorificando-as nas suas características mais pueris e fúteis.
Esposa de descobridor tem de partilhar a sua glória e estar no sítio próprio no tempo certo, “equipada a rigor”, com vestidos de brocado e baixelas de prata, embora a dureza do local implique que se coma, gordura de foca e cadáver de cão para sobreviver, inicia aquela “peregrinação” contra todas as indicações do seu guia, interpretado por Gabriel Byrne. Este vem a perder a vida devido à sua teimosia, mas isso não perturba a sua determinação.
Isabel Coixet caracteriza-nos bem a mentalidade desta personagem. Em trabalhos anteriores desta realizadora, tais como; “A Minha vida sem Mim” ou “A Vida Secreta das Palavras”, dramas polarizados pela atitude vincada da personalidade dos seus personagens, também aqui a dura realidade entra pela vida de Josephine Peary e chama-se Allaka.
Esta jovem humilde e natural destas latitudes geladas, amante ocasional do seu marido e mãe do filho que ele lhe fez numa noite de muito frio, irá mostrar-lhe que a vida real está muito para lá da ostentação a que ela se habituou na cidade que a viu partir. No inverno gelado das latitudes próximas do polo norte, numa noite gelada de seis meses que ninguém quer, a que o título do filme alude, ela irá ser posta à prova na sua humanidade.
Primeiro exibindo surpresa desdenhosa e recusando a possibilidade, depois comprovando a realidade e aceitando-a como um infeliz evento a descartar e finalmente assumindo a sua impotência e fragilidade contra os elementos, une-se àquela desconhecida, fazendo das fraquezas forças para superar a inevitabilidade daquela vida que se impõe ao nascer contra todas as conveniências do meio, do local e da situação em que, como sempre, a vida explode como o lado mais forte da natureza.
Toda a história decorre naquele ambiente gelado de um branco acinzentado, que torna mais densa a acção, numa toada de calma mortal acentuada por aquela escuridão inerente à declinação terrestre. A personagem interpretada por Juliette Binoche está bem defendida, mas decorrente de interpretações anteriores desta actriz não a teria escolhido devido à limitação do papel e ao espaço em que este decorre, todavia, nada de negativo ou de insuficiente a apontar ao seu trabalho. Interessante, recomendo…
Classificação: 5,5 numa escala de 10

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