28 de abril de 2016

Opinião – “A Lagosta” de Yorgos Lanthimos


Sinopse

A Lagosta é uma história de amor passada num futuro distópico, no qual todas as pessoas solteiras, segundo as regras da cidade, são presas e transferidas para um hotel, onde têm a obrigação de encontrar um parceiro em 45 dias.
Quem falhar é transformado num animal à sua escolha e libertado na floresta.
Um homem desesperado foge do hotel para a floresta onde os solitários vivem e apaixona-se, embora seja contra as regras impostas por estes.

Um filme único do realizador Yorgos Lanthimos, com Colin Farrell, Rachel Wise, Lea Seydoux, Jonh C. Reilly e Olivia Colman, vencedor do prémio do Júri do Festival de Cannes, 2015.

Opinião por Artur Neves

Yorgos Lanthimos, um realizador Grego nascido em 1973, já nos tinha presenteado em 2009 com o filme “Canino” (Kynodontas no original) que nos remetia para um caso extremo de submissão de pessoas aos seus parentes mais próximos, através da coabitação, mantida isolada sem comunicação com o mundo exterior nem com a evolução deste.
Desta vez Yorgos amplia este conceito de vivência ímpar, embora noutro sentido, e simula a existência duma sociedade autocrática em que as pessoas são forçadas a viver aos pares, de qualquer natureza, mas em companhia de outro ser da mesma espécie, para o qual tem de ser encontrada uma afinidade que justifique e fixe aquela ligação, como condição única para o par atingir a felicidade completa, agora e para sempre.
Não se pense porém que só o amor serve o propósito, pois são admitidas ligações de diversas ordens para atingir o objectivo imposto pela comunidade limitando a vontade individual e o livre arbítrio de tomar em mãos próprias o destino particular de cada pessoa.
Esta organização gera uma complexa teia de conflitos individuais e sociais, puníveis pelo poder instalado, que gera os marginais, leia-se; os solteiros, ou os que tomam como opção viverem solitários, que clandestinamente se organizam em estruturas tão complexas como aquelas que combatem. Na sua essência a espécie humana é de cariz social, desenvolve afectos e tem carências desses mesmos afectos que subvertem os sistemas que não os incluem. O amor, a entreajuda, a amizade brotam nos sítios e pelos motivos mais improváveis, bem como todos os outros sentimentos inspirados na exclusão, na dúvida e no despeito que conduzem esta história a um desfecho trágico.
O exercício proposto por Yorgos Lanthimos é assim estranho mas interessante, baseado num modelo em que o formal é mais importante que o real e nos confronta com a distopia de uma sociedade formada ao contrário, sem esperança nem futuro, pois o desígnio individual está traçado à partida. Recomendo o seu visionamento, para entre a surpresa do conceito e o sorriso ligeiro em situações caricatas, percorrermos a simulação de uma filosofia que certamente não desejamos.
Classificação: 7 numa escala de 10

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