19 de março de 2016

Opinião – “Ride – Na Onda” de Helen Hunt


Sinopse

Uma mãe viaja até à Califórnia ao encontro do seu filho depois de este decidir abandonar os estudos para dedicar-se inteiramente à prática do surf.

Opinião por Artur Neves
Helen Elizabeth Hunt é uma actriz já consagrada em filmes de significativa qualidade, tais como; “O Gene Rosa” e “Seis Sessões”, para citar somente os mais recentes, apresenta-nos agora a sua primeira realização cinematográfica, da qual também escreveu o argumento e em boa hora o fez, com esta história ligeira sobre assuntos sérios abordados de forma descomplicada, de certa maneira divertida e emocionalmente sensível.
É uma história comum da emancipação dos filhos e do eterno dilema, em que para os progenitores nunca chega a altura certa destes partirem sozinhos para a aventura da sua vida, com todos os riscos, alegrias, escolhas e responsabilidades que essa decisão contém. O momento chega para todos e mal será se assim não for, porém o corte da ligação próxima, o deixar voar livremente, o deixar errar… reveste-se sempre de maior ou menor resistência, e até de dor, por quem testemunhou os momentos iniciais daquela vida em construção.
Quando a dor é insuportável passa-se ao regime dinâmico, isto é, segue-se o “rebento” até ao seu novo destino, sem contudo se querer assumir como fraqueza própria, o medo projectado numa decisão alheia conscientemente tomada. E aqui começa a verdadeira aventura pondo-se tudo em questão, levando tudo a jogo, inclusive a nossa própria convicção que nos terá levado naquela aventura condenada ao fracasso, pelo menos, dos objectivos que inicialmente a justificaram. A vantagem está em provocar a saída da nossa zona de conforto e reformularmos o modo de vermos o mundo, renovarmos a maneira de nos vermos e nos encontrarmos de novo perante o desconhecido, a surpresa a inexperiência dos novos desafios. Chama-se a isto viver de novo, embora com uma equipagem reforçada pelo passado vivido, mas ainda assim rumo ao desconhecido.
Penso não revelar nenhuma inconfidência ao revelar a frase lapidar do filme, porque ela está contida no trailer e reporta-se à justificação do filho sobre a sua decisão, alegando ser tão adulto como a mãe, ao que esta responde que embora sendo ambos adultos “… um dos adultos saiu pela vagina do outro” e este pormenor faz toda a diferença na relação entre ambos os adultos, não tenhamos dúvidas.
Mas a vida é o que é, com avanços e recuos temos de continuar a nossa vida e neste caso ela renova-se e transforma-se até para a mãe que encontra uma possibilidade de reconstrução e de estabilidade com um novo amor, que embora salgado pelas ondas do mar, se afirma constante e perene numa nova promessa de vida.
Todo o conjunto da história está bem construída, a realização é escorreita, flui sem demasiados sobressaltos e é agradável de ver, provoca sorrisos e comove, não é demasiado convencional e é fácil aceitar todas as premissas, pois cumpre-se a vida. Gostei e recomendo.
Classificação; 6,5 numa escala de 10

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