29 de janeiro de 2016

Opinião – “A Cúpula” de Stephen King


 
Sinopse:
Num bonito dia de outono, um dia perfeitamente normal, uma pequena cidade é súbita e inexplicavelmente isolada do resto do mundo por uma força invisível. Quando chocam contra ela, os aviões despenham-se, os carros explodem, as pessoas ficam feridas. As famílias são separadas e o pânico instala-se. Ninguém consegue compreender que barreira é aquela, de onde vem ou quando (se é que algum dia) desaparecerá.
Agora, um grupo de cidadãos intrépidos, liderado por um veterano da guerra do Iraque, toma as rédeas do poder no interior da cúpula. Mas o seu principal inimigo é a própria redoma. E o tempo está a esgotar-se…
 
Opinião por Marta Nogueira
Seguindo a boa e ininterrupta tradição de extraordinário contador de histórias, Stephen King constrói mais uma vez neste romance uma trama imparável, recheada de pormenores e de personagens, algumas conotações políticas e ecológicas e a eterna interrogação - estamos ou não sozinhos neste nosso pequeno e azul planeta perdido na imensidão do espaço?
A Cúpula começa com um enredo de mistério - o que será esta força invisível que passou de um dia para o outro a isolar a pequena cidade de Chester's Mill no Maine (área geográfica onde o escritor reside e que sempre constituiu base para a grande maioria dos seus romances) do resto do país e do planeta? - prossegue como uma novela ecológica, militar e de conspiração - serão os efeitos ambientais, serão os inimigos dos EUA, ou o próprio governo que está a usar os habitantes de Chester's Mill como cobaias para misteriosas experiências científicas e/ou bélicas? - e desenrola-se na sua maior parte como uma narrativa sobre o poder e sobre as relações de hierarquia que se estabelecem no interior de pequenos grupos fechados, isolados de tudo, criando automática e quase organicamente as suas próprias regras de funcionamento.
Através de uma galeria imensa de personagens todos desenvolvidos com uma complexidade minuciosa, King reflecte sobre o poder e sobre as diferentes abordagens que os habitantes de Chester's Mill encontram para lidarem com esta súbita mudança radical nas suas vidas pacatas. Dois grupos formam-se naturalmente - aqueles que seguem Big Jim Rennie, o poderoso vice-governador da cidade, um homem que se esconde por trás do verdadeiro governador e "yes-man" Andy Sanders, cujo posto é apenas de fachada pois segue tudo o que Rennie lhe "sugere". Big Jim comanda a vida da cidade subtilmente, como um verdadeiro mafioso, escondendo um negócio milionário de droga que aproveita os recursos da cidade para o enriquecer e aos seus colaboradores silenciosos, entre os quais se encontra um dos chefes eclesiásticos das duas igrejas que existem na cidade. Do outro lado, irão estar os apoiantes de Dale Barbara, um ex-combatente do Iraque que vai parar a Chester's Mill como cozinheiro do restaurante de Rose Twitchell e que fará frente a Big Jim e às suas artimanhas para se aproveitar da nova conjuntura extraordinária e controlar as vidas dos seus constituintes.
Do outro lado da Cúpula está o exército dos EUA comandado pelo Coronel James Cox, antigo superior de Barbara, uma batelada de cientistas que tentam resolver a situação desesperada da cidade e os familiares de todos os habitantes de Chester's Mill que se encontravam fora da cidade quando a cúpula desceu sobre ela ou que vivam noutros lugares.
O tempo está a esgotar-se, rapidamente. Ou alguém encontra uma solução, ou Chester's Mill corre o risco de sufocar os seus habitantes, que se encontram aprisionados no interior de uma cúpula invisível e transparente, mas que está a isolar a cidade num pequeno e mortífero micro-cosmos de ar saturado de poluição, falta de alimentos e um calor cada vez mais sufocante. Ao mesmo tempo que lutam pela sobrevivência, têm ainda de se preocupar com os esquemas de Big Jim e com a cada vez maior certeza de que ninguém sabe como solucionar o problema, muito menos quem está do lado de fora.
A lição parece ser - não esperes que te salvem, trata tu próprio de te safares, mais ninguém conseguirá isso melhor do que tu.
Este romance é Stephen King no seu melhor, com a sua absoluta e genial capacidade de contar uma história, sem nunca esquecer esse tom de estranheza "kingiana" que, à semelhança de Hitchcock, lhe merece um termo exclusivo. O terror de King é diferente do terror clássico do termo - uma sensação que deambula entre a escuridão dos nossos mais terríveis receios e um lugar mítico arrepiante que nunca conseguimos agarrar totalmente mas que permanece sempre à espreita no canto do olho depois de a ele termos sido introduzidos pela primeira vez. Pessoalmente, essa sensação nunca me abandonou desde o glorioso "IT", o romance de terror mais aterrorizador que li na vida e que me introduziu para sempre ao universo de King.
Este A Cúpula é mais um "page turner" impossível de interromper, apesar das suas 500 e muitas páginas, com um fim surpreendente. King é daqueles escritores cujos livros desejamos nunca mais acabassem. Felizmente, para os fãs, é também dos mais prolíficos.

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