4 de junho de 2015

Opinião - Terrarium - José Barreiros e Luís Filipe Silva


Título: Terrarium
Autores: José Barreiros e Luís Filipe Silva
Editora: Caminho

Sinopse:
A história gira em torno da proposta de que uma imensidade de raças alienígenas chegou à Terra num ponto qualquer do século 21. Suas naves, unidas, compõem um anel em torno do planeta, e grande parte dos aliens, chamados exóticos, vive na Terra, em paz com seus Hospedeiros.
No entanto, as coisas não são tão simples quanto aparentam, uma vez que existem seres muito poderosos conhecidos como Potestades, que se manifestam na Terra na forma de anjos, como os anjos terrestres, assumindo seus nomes e realizando um estranho e misterioso jogo político e de força. São enviados de uma raça ainda mais poderosa que os teria construído em tempos imemoriais, e que atua como uma espécie de vírus, alimentando-se de raças alienígenas até esgotá-las.
Vários terrestres são envolvidos nos jogos pelo poder, que se transformam numa luta desesperada para salvar o planeta no momento em que tecnologias avançadíssimas são introduzidas na Terra, provocando alterações inesperadas na sociedade e mutações nos próprios seres humanos.

Opinião por Rui Bastos:
Este livro é um livro especial. João Barreiros é um autor que me fascina e surpreende a cada obra que leio, e embora não tenha lido praticamente mais nada de Luís Filipe Silva, conheço-o pessoalmente graças à Oficina de Escrita Fantástica da Trëma, e tenho por ele um grande respeito e admiração.
Se já namorava este livro só por ter sido escrito por João Barreiros, graças aos últimos meses o facto de também ser um livro de Luís Filipe Silva apenas serviu para me aguçar o apetite até dimensões descomunais, sem que nada do que até agora foi mencionado tenha o que quer que seja a ver com as opiniões que eventualmente vou dar mais à frente. Seriam as mesmas se me fossem autores completamente desconhecidos. Andei com o título na mente durante meses, sempre a contar o tempo que faltava para fazer o último teste e o ir buscar à biblioteca. E assim foi: dia 20 fiz o meu último teste este ano, dando assim por terminado o 2º semestre do 2º ano, e no Sábado aproveitei a sessão da Oficina na Orlando Ribeiro para o ir requisitar. Juro que já há algum tempo que não ficava tão excitado por ter um livro nas mãos. A ansiedade de o abrir e de o devorar era tanta, mas tanta, que nem vos passa pela cabeça.
Claro que aproveitei para mostrar o livro ao Luís e dizer-lhe que o ia ler. Ele riu-se e aconselhou-me, em traços largos (ele que diga horrores do meu conto na próxima sessão da Oficina se estiver a mentir), que devia ter juízo em vez de andar a ler estas coisas. A única coisa que isto fez foi dar-me ainda mais vontade de ler o livro. Por nenhuma razão em especial, acho que nesse dia até a viagem de autocarro até casa me deu mais vontade de ler o livro. Eu queria era lê-lo. Surpreendentemente não o li tão depressa quanto esperava. É um livro grande, é verdade, mas com as ânsias com que eu estava, e com o que fui gostando do livro, devia tê-lo devorado em 2 ou 3 dias, mas levei mais ou menos uma semana.
A explicação que encontro é a enorme complexidade do romance, que é de facto um romance em mosaicos, intrincado e contorcido sobre si próprio, com 5 novelas a constituírem o corpo principal da história, antecedidas por um prólogo fantástico e cativante, e seguidas de 3 alternativas finais que são, no seu conjunto, uma das formas mais curiosas e fantásticas de se acabar um livro e fechar um enredo. Como já devem ter percebido, a história tem demasiados detalhes e é pura e simplesmente demasiado complexa para que qualquer resumo que eu vos dê lhe faça jus, mas fiquem com esta ideia: é uma luta entre várias raças alienígenas, com alguma da tecnologia tão avançada que chega a parecer magia. Um confronto entre humanos e as Potestades, com IXyitil sempre à espreita e vulpis, volpex, simulatrix, kreepos, inteligências artificiais e tantas outras raças e seres que seria tarefa inglória tentar nomeá-las. O que interessa é que um milhar e qualquer coisa de raças foram semi-capturadas e empurradas para a Terra, selando todas essas espécies numa espécie de terrarium gigantesco. Depois há porrada, há sangue e tripas, há momentos carregadíssimos de acção, há show-off de tecnologia de ponta e um enredo extremamente complicado em que quase nada do que parece, é.
Nem vos posso revelar tanta coisa quanto isso sobre a história. Mas posso falar-vos da escrita, que é muito boa, de uma forma general. Não vou arriscar dizer que consegui ver quem é que escreveu que parte, pois não conheço suficientemente bem a escrita de nenhum dos autores, mas há claramente duas vozes a contar esta história: uma, mais brutal, rápida e directa, sem tempo nem paciência para floreados, e que desconfio ser a do João Barreiros, é a mais comum ao longo do livro; mas também se vê uma escrita mais calma, mais pausada, mais dada a ligeiras divagações, mais "bonita" em termos de estilo, e que se coaduna muito bem com a imagem que tenho da escrita do Luís Filipe Silva.
Caso ainda não tenham percebido, delirei com este livro. Foi daquelas obras para a qual eu tinha expectativas muito altas, e que não só correspondeu a tudo o que eu imaginava, como ainda ultrapassou isso tudo!
Objectivamente falando, não é o melhor livro que já li, e tem algumas falhas em termos de conjugação dos dois estilos, e de ritmo, e da forma como a informação é dada e apresentada, mas isso também faz parte das suas características.
É um livro complexo, ainda por cima com referências e homenagens (revistas Pulp? Comics?) a várias outras obras de ficção científica que eu não apanhei na totalidade, de certeza, que quando tem hipótese de simplificar as coisas e deixar o leitor mais dentro de tudo o que se está a passar, faz um mortal encarpado à retaguarda e BAM!, vai-te lixar leitor, pões a mioleira a trabalhar e é se queres. Nesse aspecto é sublime.
E subjectivamente falando tenho apenas a dizer que caso alguém me pergunte qual é o meu livro favorito, finalmente sei o que responder.

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