23 de dezembro de 2012

Opinião - O Circo dos Sonhos

 
Título: O circo dos sonhos
Autor: Erin Morgenstern  
Editora: Civilização

Sinopse:
Um misterioso circo itinerante chega sem aviso e sem ser precedido por anúncios ou publicidade. Um dia, simplesmente aparece. No interior das tendas de lona às listas pretas e brancas vive-se uma experiência absolutamente única e avassaladora. Chama-se Le Cirque des Rêves (O Circo dos Sonhos) e só está aberto à noite. 
Mas nos bastidores vive-se uma competição feroz - um duelo entre dois jovens mágicos, Celia e Marco, que foram treinados desde crianças exclusivamente para este fim pelos seus caprichosos mestres. Sem o saberem, este é um jogo onde apenas um pode sobreviver, e o circo não é mais do que o palco de uma incrível batalha de imaginação e determinação. Apesar de tudo, e sem o conseguirem evitar, Celia e Marco mergulham de cabeça no amor - um amor profundo e mágico que faz as luzes tremerem e a divisão aquecer sempre que se aproximam um do outro. 
Amor verdadeiro ou não, o jogo tem de continuar e o destino de todos os envolvidos, desde os extraordinários artistas do circo até aos seus mentores, está em causa, assente num equilíbrio tão instável quanto o dos corajosos acrobatas lá no alto. 
Escrito numa prosa rica e sedutora, este romance arrebatador é uma dádiva para os sentidos e para o coração. O Circo dos Sonhos é uma obra fascinante que fará com que o mundo real pareça mágico, e o mundo mágico, real.
Opinião por Lucas Campos Costa :
"O circo chega sem aviso." Esta é a frase inicial da narrativa envolvente de Morgenstern. A partir daí, abra sua mente para todo o tipo de impossível. As palavras magia, ilusão e manipulação tomaram proporções e significados totalmente diferentes pra mim. Esqueça tudo o que sabe. Le Cirque des Rêves mudará sua percepção de sonhos. Para sempre.

Tal como a sinopse revela, somos envolvidos por um universo totalmente novo e moldado ao redor de um circo. "Um" encaixa-se de maneira insatisfatória nesse caso, o mais correto seria dizer "O" Circo. Acompanhamos o seu nascimento, seu crescimento, a importância que possui na vida de seus visitantes e, principalmente, seus proprietários, os idealizadores dele. Celia e Marco, ilusionistas, mágicos ou manipuladores (escolha a palavra que quiser, eles podem ser todas ou nenhuma) são as peças fundamentais, protagonistas que encontram-se por trás das cortinas do circo dos sonhos, todo preparado para fazer o impossível ser crível aos olhos das pessoas.

Narrado no fim do século XIX e começo do XX, acompanhamos a intrigante origem do Le Cirque des Rêves, desde a concepção da ideia por Chandresh, do desenvolvimento arquitetônico do Sr. Barris, genialidade e equilíbrio das irmãs Burgess, até à brincadeira de cores, desenhos e tecidos da Mme. Padava. Todos são peças necessárias para criar algo totalmente diferente do que o mundo já viu. Mesmo o relógio misterioso de Herr Thiessen tem um belíssimo papel na composição do circo, que possui as cores preta e branca como predominância para o encanto visual que proporciona às seus espectadores.

"Depois que o circo foi embora, ele escreveu todos os detalhes de que conseguiu se lembrar para que não se perdessem em sua memória. As pipocas cobertas de chocolate. A tenda cheia de gente em plataformas circulares elevadas realizando truques com fogo branco e brilhante. O relógio mágico que se transformava e ficava do outro lado da bilheteira, fazendo muito mais que apenas informar as horas." (página 93)

Alternadamente, conhecemos a origem de Celia e Marco, desde pequenos, marcados e com os destinos entrelaçados, fruto de uma 'brincadeira' de dois "mestres" da magia, seus mentores. O desejo é de possuir o seu pupilo vencedor em um duelo onde as regras não são claras. Assim, as crianças são preparadas, de forma diferenciada para vencer esse duelo, que pode ocorrer em 10 anos ou em 30, quem sabe? E esse jogo não tem previsão para terminar. De forma diferenciada, ambos são envolvidos no Circo, desde os primeiros tempos. Marco já sabe quem é sua oponente. Celia, por sua vez, desconhece a identidade de Marco e continua na obscuridade desse facto, sendo uma das atrações principais do Circo, como a mestra das ilusões, até o momento propício. Quando os panos caem e os oponentes estão claros para ambos, o que se tornaria uma disputa de alto nível em magia, derrete-se pelo encontro de dois corações sedentos pela mágica maior: o amor.

Erin narra de forma apaixonada cada detalhe que envolve o Circo: suas tendas, seus sabores, sua estrutura, seus rêveurs. É inevitável sentir-se atraído pela descrição dos detalhes, chegando, algumas vezes, a ser prolixa. Tal facto, que no início pode incomodar o leitor, torna-se necessário. No fim da narrativa, percebemos que não havia como ser diferente. A descrição tão precisa de cada um dos elementos, envolve o seu leitor de uma maneira quem não tem como escapar, é como se a autora estivesse realmente fazendo mágica com as palavras, e dizer isso, não é um exagero. Pura poesia.

Os capítulos alternando passado e presente, para apresentar as histórias paralelas, pode ser um incômodo no início, mas depois, torna-se superável, quando ao fim, percebemos que tudo o que foi narrado é fundamental para a ocorrência dos factos. Apenas deixe-se envolver pela suas linhas. Abra sua mente, pois a magia não é explicada nesse livro, e nem tem razão para isso. Não é amante do circo? Eu também nunca fui. Mas Le Cirque des Rêves chegou sem aviso, e com certeza, conquistou o posto de uma das melhores leituras da minha vida.

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