18 de março de 2012

Opinião - Mil Sois Resplandecentes

Título: Mil Sois Resplandecentes
Autor: Khaled Hosseini
Editora: Presença

Sinopse:
Há livros que se enquadram na categoria de verdadeiros fenómenos literários, livros que caem na preferência do público e que são votados ao sucesso ainda antes da sua publicação. Há já algum tempo que se ouvia falar de Mil Sóis Resplandecentes, do afegão Khaled Hosseini, depois da sua fulgurante estreia com O Menino de Cabul, traduzido em trinta países e agora com adaptação cinematográfica em Portugal. A verdade é que assim que as primeiras cópias de Mil Sóis Resplandecentes foram colocadas à venda, o romance liderou o primeiro lugar nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Alemanha, Holanda, Itália, Noruega, Nova-Zelândia e África do Sul, estando igualmente muito bem classificado no Brasil e em França. A própria Amazon americana afirmou que há muito tempo não tinha visto um entusiasmo tão grande a propósito de um livro. Devido ao elevado número de encomendas, nos Estados Unidos, foram realizadas cinco reedições ainda antes do livro chegar às livrarias e na primeira semana após a publicação, já tinham sido registadas um milhão de cópias em circulação. É pois um caso verdadeiramente arrebatador que combina preferências populares potenciadas pelo efeito de passa-palavra às melhores críticas internacionais. Confirmando o talento de um grande narrador, Mil Sóis Resplandecentes passa em revista os últimos trinta anos no Afeganistão através da comovente história de duas mulheres afegãs casadas com o mesmo homem, unidas pela amizade e pela dor proveniente dos abusos que lhes são infligidos, dentro e fora de casa, em nome do machismo e da violência política vigente durante o regime taliban, mas separadas pela idade e pelas aspirações de vida. Um livro revelador, que aborda as relações humanas e as reforça perante reacções de poder excessivo e impunidade.

Opinião por Priscila Beato:
Acredito que depois de ter desvendado o livro que me posso poupar de justificar o porquê de ser um dos meus romances preferidos e como tal está explicada a minha necessidade de o reler, afinal o misto de emoções é tanta e tão forte que nos permite entender e a aceitar as dificuldades que temos de passar e saber perdoar o que não tem perdão, e como tal evoluir para seres humanos melhores.
Para quem não leu vou tentar resumir a história. O livro fala de duas histórias de duas vidas de inicio completamente distinto. De duas mulheres árabes em que o percurso normal de uma vida não as juntaria, mas cujo o cruel destino fez com que se cruzassem. Inicialmente o livro conta a história da inocente Mariam, uma menina cuja maior alegria na sua vida tinha o seu apogeu às quintas-feiras, quando o seu pai vinha-a visitar por uns minutos. Filha ilegítima de um homem rico e sua empregada, cedo conheceu o inferno quando após o falecimento de sua mãe (com apenas 14 anos) foi dado por Jalil, seu próprio pai, em casamento a um homem de 45 anos, de seu nome Rashid, e foi levada de sua pacifica cidade Herati para Cabul.
Paralelamente a esta história começa também a ser contada a história da bela e inteligente Laila, com uma família muito feliz, com um belo amor de seu nome Tariq cujo destino separou mas, quase ao fim de 10 anos e muito sofrimento, de vidas destroçadas e outras perdidas, e principalmente com a coragem de Mariam, o amor conseguiu juntar. Estas tuas sofridas mulheres iniciam a sua relação como rivais, a Mariam é a primeira esposa de Rashid e Laila se converte na segunda e preferida esposa e nas mãos deste monstro que é o Rashid (um árabe tacanho com mentalidade pré-histórica que vê o ser feminino como objecto cujo o único propósito é o de servirem o homem, dar filhos e serem um saco-de-boxe quando as coisas não correm como ele gostaria.) É na adversidade da vida, principalmente pela convivência com o esposo que faz nascer a mais linda história de amizade que alguma vez li ou ouvi. Mariam e Laila criam um laço tão forte, quiçá mais forte, que os laços de sangue. Mais que amigas elas desenvolvem uma relação quase de mãe-filha e juntas vão lutando contra quase todas as indignidades possíveis e imagináveis, sem esperarem nada em troca uma da outra que não a verdadeira amizade. Em Laila e seus filhos Mariam conhece a felicidade que nunca teve na sua triste existência e Laila encontra o seu refúgio.
O livro leva até um coração de gelo às lágrimas. Eu chorei incontáveis vezes ao longo do livro, desde o abandono de Jalil no dia de aniversario de Mariam que levou esta a dormir na rua e a entender que era renegada pelo próprio pai a quem ela idolatrava, quando ela é forçada a casar com Rashid que tem mais 30 anos que ela, quando ele a espanca por esta não conseguir lhe dar filhos, quando ela é rebaixada ao extremo pelo marido quando este faz as segundas núpcias, a razão pela qual Laila se vê forçada pelas tristes circunstâncias da vida a casar com Rashid, enfim enumeras razões de tristeza mas também de indignação pela forma como as mulheres são tratadas no mundo islâmico me levaram às lágrimas, mas acima de tudo é a carta de Jalil, pai de Mariam, que me quebra o coração em pedaços e tanto da 1º vez em que li como agora me fizeram interromper a leitura e só conseguir retomar e finalizar dias mais tarde. Não dá para descrever a dor que provoca a leitura da carta, é demasiado forte e só mesmo lendo o livro se consegue sentir a dor provocada por diversos rancores e palavras não ditas que poderiam ter mudado a história das personagens. Enfim, adorei, ou melhor, amei o livro e sei que ainda o vou reler mais vezes e como tal sem dúvida que é um livro que recomendo. Espero que quem o leia que goste tanto como eu, mas aviso, é um livro muito intenso, com cenas muito fortes e que diversas vezes vão necessitar de interromper a leitura por necessidade de chorar. Mas acima de tudo dá uma lição: com amizade e esperança tudo se alcança, mas acima de tudo os rancores é quem mata a nossa felicidade e a melhor forma de sermos felizes é aprender a perdoar e não deixar que os remorsos nos afoguem e que mesmo nos solos mais agrestes onde quase só há pedras que podem nascer as mais lindas flores.

Sem comentários: