24 de julho de 2011

Opinião - O Rei do Inverno

Título: O Rei do Inverno
Autor: Bernard Cornwell:
Editora: Planeta

Sinopse:
Século quinto. A Grã-Bretanha encontra-se no limiar das trevas. Esbatem-se as memórias da civilização romana, os deuses pagãos recuam perante o avanço do Cristianismo, os Saxões parecem animais a atacar as nossas fronteiras. São frágeis as alianças que unem os reinos insubordinados da Grã-Bretanha contra os invasores, alianças cimentadas pelo vigor do Rei Supremo, Uther Pendragon. Mas Pendragon está em declínio e o seu herdeiro não é um chefe poderoso, mas sim apenas uma criança nascida numa gélida noite de Inverno. Só um homem poderia salvar o trono de Uther; só ele poderia manter os reinos em luta unidos contra o verdadeiro inimigo – os Saxões. Esse homem é Artur: soldado, homem de Estado, protegido de Merlim, filho ilegítimo de Uther. Mas Artur tinha sido desterrado, mandado para o exílio na Bretanha pelo seu próprio pai. Derfel, um dos seus lanceiros, narra a história do regresso de Artur e da sua busca da paz: uma busca pelejada, sangrenta, e finalmente, triunfante.
O Rei do Inverno é uma história magnífica da Idade das Trevas e da realidade da guerra e das lutas políticas numa terra onde a religião compete com a magia pelas almas das pessoas. Esta história retrata o rei Artur, mais o homem do que a lenda, um génio militar que, com um pequeno grupo de guerreiros a ele ligados por lealdade e amor, lutou para manter viva a centelha da civilização num mundo brutal e selvagem

Opinião por Mariana Teixeira:
Sabem aqueles livros que nos chamam na prateleira das livrarias? Aqueles livros em que pegamos vezes sem conta, pensando se valerá a pena comprar, que criam em nós uma ânsia de leitura mesmo antes de virar a primeira página? Para mim "O Rei do Inverno" foi um desses livros.
Sabia sobre ele e por princípio uma série de coisas. Sabia que era o primeiro de uma trilogia denominada "Crónicas do Senhor da Guerra", sabia que tinha bastantes folhas e estava escrito com letras relativamente pequenas. Mais importante que tudo, sabia que se tratava de uma recriação das lendas arturianas e talvez viesse daí a minha atracção natural pelo livro.
Não esperava, no entanto, a narrativa que encontrei, o que não pode ser considerado um ponto negativo.
"O Rei no Inverno" é - se tentarmos definir o livro numa palavra simples - um romance cru. Desengane-se quem vier à procura de versões romantizadas, de príncipes guerreiros e princesas encantadas, encantamentos maravilhosos e cenas de levar às lágrimas. Bernard Cornwell escreve sobre a história de Artur com um realismo impressionante, sem poupar o leitor da crueldade e violência características da época mas que a esmagadora maioria dos outros autores optam por deixar de lado. Poder-se-ia no entanto pensar que tal facto tomaria completamente conta da narrativa, deixando pouco espaço para a abstracção do leitor, mas tal não acontece. Essa narrativa crua e forte mantem-se, de facto, durante todo o livro, mas é possível ao leitor habituar-se a até abstrair-se da mesma, enquanto Cornwell nos conduz com mestria pelas aventuras do guerreiro Derfel, criado no Tor, amigo pessoal de Artur e monge católico na fase final da sua vida. De facto, trata-se mais de um livro sobre a visão de Derfel sobre Artur e os acontecimentos ocorridos na Bretanha do que própri a e unicamente uma narração da vida de Artur. E isto não tira interesse ao Romance. Pelo contrário, Derfel revela-se uma personagem principal interessantíssima na sua lealdade e coragem, sem nunca perder a pitada de irreverência de que são feitos os bons protagonistas.
Apesar de se revelar, de facto, uma história fascinante, não se deve esquecer, no entanto, que se trata de um livro com uma quantidade generosa de factos históricos (mesmo que fictícios), o que poderá, sem dúvida, tornar a leitura mais demorada e até cansativa a determinada altura. Aconselho vivamente ao leitor que se vir em apuros que não faça como eu (por alguma razão que ainda não identifiquei com clareza apenas me lembro que os mapas existem quando acabo a leitura) e consulte o mapa e o guia de personagens existentes no início do livro. Seja como for, não deverá ser dado demasiado valor a este aspecto, uma vez que, com ou sem consulta, a determinada altura torna-se bastante mais fácil o reconhecimento tanto dos reis e respectivos territórios.
Trata-se assim, portanto, de um livro denso e de leitura nem sempre fácil, mas com uma visão original e uma narrativa que com o tempo se torna apaixonante, principalmente para os amantes da descrição de batalhas, arte que é sem dúvida dominada pelo autor.

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